Apagar tudo e começar de novo

Apagar tudo e começar de novo, parece fácil, mas para mim tem sido uma tortura. Com a ajuda do Tonô abri este espaço com desejo de falar de teatro, da minha experiência a escrever, a encenar e a ajudar homens que cumpriam pena privativa de liberdade, a subir a um palco e a viverem a liberdade que o teatro oferece, ainda que durante umas horas por dia. Como já trabalhava nesse projecto há alguns anos, muitos episódios me surgiam a cada momento prontos a saltarem para o papel e se alguns eram agradáveis, outros nem por isso. Nunca escrevi mentiras ou dei largas à imaginação para compor os meus posts. Juntava fotos com a preocupação de não mostrar as pessoas, embora tivesse a sua autorização para o fazer. Nunca mencionei qual o local onde desenvolvia o meu trabalho, nem das pessoas intervenientes nas minhas descrições. Mesmo assim, quem não gostou de se rever nas suas acções (e repito que nada foi inventado por mim) teve tempo e paciência para copiar o blog e fazer valer a sua superioridade, vingando-se. Como é que uma pessoa, ou duas, ou mais, têm coragem de ter certas atitudes e depois não a têm para as assumir? E as outras pessoas que as avaliavam apenas pelo que elas deixavam aparecer, o que iriam pensar se alguma vez viessem a ler aquilo que eu escrevia? Depois de muita raiva, retirei tudo (para meu sossego) e resolvi que aquela actividade não seria mais o tema principal do meu blog Desdramatizar. Recomeço agora, 5 anos depois, para falar de coisas várias, que não o teatro que eu fiz, (talvez nalgum momento do teatro que outros farão), mas de coisas que igualmente me tocam profundamente. Não retirei as mensagens do meu mano mais novo, meu professor e meu amigo tão paciente, já que tudo o que tenho feito neste campo, tem começado assim, com a sua presença e os seus rascunhos.
E aqui vou eu.

Título


Transformar o silêncio em palavra; o abandono em abraço; a revolta em esperança; a raiva em arte; o homem em ser humano.

A rádio do meu mano

Pretérito Mais-Que-Perfeito é o nome do programa que o meu mano "caçula" faz na Rádio Cova da Beira - por sinal, ma emissora que ele próprio criou há 20 anos e que hoje está no topo do "ranking" das rádios locais (estúdios modernos num palecete enorme, com jardim e tudo, grande grupo de profissionais, orçamentos invejáveis...).
O Pretérito Mais-Que-Perfeito faz a História da Música, da grande música - diariamente e tendo como alvo o grande público.
Agora tem um blog, dentro e fora do site da própria estação. E é interessante - e útil - passar por lá, com direito a ouvir música incluído.
Tirei de lá um excerto (Für Elise) :
FÜR ELISE

Ludwig van Beethoven
23.Mar.2007 .

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Voltamos a falar de Beethoven. E hoje, para falarmos de bagatelas.
Bagatela (do italiano «bagatella», que significa coisa de pouco valor, insignificância, ninharia), é uma composição musical breve, de carácter ligeiro e despretensioso, não sujeita a um plano formal concreto, normalmente para ser tocada para piano. É uma criação do Romantismo.
Ludwig van Beethoven compôs muitas bagatelas. Reuniu algumas delas em compilações como "Sete Bagatelas para Piano", "Onze Bagatelas para Piano", ou "Seis Bagatelas para Piano".
Mas a mais famosa é aquela a que Beethoven chamou «Bagatela para piano ‘Für Elise’» em lá menor – conhecida também por 'Para Elisa'

Sabe-se (pelo rascunho encontrado) que Beethoven teria composto esta pequena obra, pelos anos 1808 ou 1810, em honra de uma senhora a quem propôs casamento, chamada Therese Malfatti, sobrinha do Dr. Giovanni Malfatti, um médico italiano que se instalou em Viena e que foi um dos médicos do compositor, tratando-o inclusive durante a sua doença final.

hetero-abertura

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O tempo. Porquê o tempo, que Dali "retratou" num óleo imortal?
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Porque o tempo parece ser, para já, a palavra-chave da abertura deste diário.
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Porque é o tempo vivido por cada pessoa individual e singular aquilo que fica duma existência humana, como testemunho e como legado.
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Porque é o tempo que dá experiência, maturidade, senso - e, porque não, sabedoria? - para se questionar, pensar e concluir tudo aquilo que, embora talvez visto por outros, cada par de olhos, identificado e personalizado, tem para dar a ver aos outros - aos outros no espaço, que são o outrem, e aos outros no tempo, que são o vindouro. O que se viu e não deve deixar de dar-se a ver.
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Porque é o tempo que constitui aquele tesouro diferenciador dos indivíduos de cada espécie - o tempo que uns gastam e outros aproveitam, o tempo que a uns desgasta e a outros enriquece, o tempo que para uns é ócio e para outros dádiva.
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Porque é o tempo aquilo por que se luta muitas vezes - pelo tempo que os outros perderam, pelo que contam, pelo que não podem voltar a perder, pelo que têm de aprender a não perder de novo, pelo que esperam ou receiam, pelo que no tempo deles preocupa o nosso tempo, quantas vezes em tempo inteiro.
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Porque é o tempo, afinal, o que mais merecemos usufruir valorizando, valorizar usufruindo.
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E é isto: esta abertura, por ser uma simples hetero-abertura, é um convite e um pedido - o de nos dispensares as sobras do teu tempo, dando-nos a essência do tempo que foi e é o teu.
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Boas prosas!